Tribunal condena doze arguidos e absolve três no caso BPN
24 de maio de 2017O julgamento durou cerca de seis anos. No final da leitura do acórdão, extremamente extenso, pelo coletivo de juízes, presidido por Luís Ribeiro, foi possível conhecer o veredito. Oliveira e Costa, ex-presidente do Banco Português de Negócios (BPN) , é condenado por vários crimes por ter estado à frente de um esquema montado com a participação de outros 14 arguidos, para tirar proveito próprio do cargo que exercia como banqueiro.
De acordo com o juiz, Luís Ribeiro, esta foi "a maior burla da história portuguesa".
Após o julgamento, o Ministério Público (MP) tinha pedido penas de prisão entre 13 e 16 anos para o ex-presidente do BPN.De acordo com a acusação, os crimes, que envolvem os 14 arguidos, assentam no abuso de confiança, burla qualificada, falsificação de documentos, branqueamento de capitais, infidelidade, aquisição ilícita de ações e fraude fiscal.
Entre os inúmeros factos provados, consta nos autos as ligações do principal condenado ao já extinto Banco Insular, com registo em Cabo Verde, na Achada de Santo António – Ilha de Santiago. Trata-se de um banco criado para instrumentalizar os objetivos do grupo de Oliveira e Costa: realizar operações financeiras internacionais usufruindo das vantagens dos "off-shores" ou paraísos fiscais, a fim de evitar o controlo das autoridades.
Controlo de todas operações
De acordo com os factos, Oliveira e Costa controlava todas as operações, inclusivamente a compra e venda de ações das sociedades do grupo BPN. Daí tirava lucros que se revertiam a seu favor, depositados em conta própria. Ao todo, mais de 20 mil milhões de euros foram transacionados através do Banco Insular, sem o controlo da autoridade bancária.
Tudo era feito sem se expor o BPN, instituição que, entretanto, controlava as operações do Banco Insular, então administrado pelo cabo-verdiano, José Vaz Mascarelhas.
À volta do antigo presidente do BPN cresceu uma teia de outros nomes, como o de Dias Loureiro, ex-ministro da Administração Interna no governo de Cavaco Silva, ou do ex-banqueiro angolano, Álvaro Sobrinho, que dirigiu o falido Banco Espírito Santo (BES Angola), envolvidos numa rede de lavagem de dinheiro.A propósito deste caso mediático, a DW ouviu a opinião de João Paulo Batalha, presidente da direção da TIAC – Transparência e Integridade – Associação Cívica. "O BPN foi o escândalo que apareceu primeiro porque foi o banco que faliu primeiro mas o Banco Espírito Santo tudo indica que é um caso relativamente semelhante de proporções muito maiores. O BANIF, tudo indica que é um caso relativamente semelhante mas de proporções menores, mas isto significa que durante muito tempo – é difícil até precisar quanto – uma parte importante do sistema bancário português foi usada para negócios corruptos que incluiam lavagem de dinheiro de elites corruptas não só em Portugal mas também em países como Angola e eventualmente como Cabo Verde em que, no caso BPN, houve uma filial do banco que foi usada para muitos destes ilícitos e porventura muitos outros clientes e muitas outras individualidades que ainda nem sequer foram detetados", disse João Paulo Batalha.
Depois de 1975, o BPN foi o primeiro banco a ser nacionalizado (em 2008). A queda do banco deu origem a vários processos judiciais, sendo de referir que foi vendido ao BIC Português, entidade bancária de capitais luso-angolanos.