"Eleições populares": CAD reivindica com processo paralelo
7 de janeiro de 2025Iniciaram nesta segunda-feira (6) as chamadas "eleições populares" na província de Nampula, em Moçambique. A iniciativa, organizada por militantes e simpatizantes da Coligação Aliança Democrática (CAD), busca eleger "governantes do povo" e é uma reação política à não aceitação dos resultados oficiais das eleições gerais de outubro, validados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e pelo Conselho Constitucional.
As eleições, que ocorrem em bairros e postos administrativos, são conduzidas de forma autônoma pelos cidadãos. De acordo com José Ali, delegado distrital da CAD em Nampula, o processo reflete uma tentativa de dar voz ao povo e reverter o que considera injustiças do sistema eleitoral oficial.
A CAD alega que o partido FRELIMO, no poder, não venceu de forma justa as eleições gerais, e por isso, busca organizar um processo alternativo. Venâncio Mondlane, candidato presidencial apoiado pela CAD, reivindica a vitória e promete assumir a liderança do país em 15 de janeiro. "Já deixamos de chamá-lo de candidato. Ele é o Presidente. Esta posse será junto com as estruturas de base”, afirmou José Ali.
Os "governantes" eleitos nesses processos paralelos também devem tomar posse na mesma data. Entretanto, o formato exato das cerimônias não foi detalhado.
Legalidade em questão
Juristas e analistas divergem sobre a legalidade e o impacto dessas ações. Para Jamilo Atumane Abibo, jurista moçambicano, a realização de eleições populares e a posse dos eleitos não têm respaldo constitucional. No entanto, ele ressalta que essa iniciativa reflete uma resposta às insatisfações do povo. "O regime no poder criou esta situação, e o que está a acontecer é uma pressão para que a verdade eleitoral seja reconhecida”, declarou.
Abibo também alertou para possíveis tensões caso não haja uma solução negociada antes da posse dos líderes eleitos pelo CAD. Ele prevê um agravamento do cenário político caso o clima de insatisfação se intensifique.
Reação da FRELIMO
A FRELIMO, partido no poder, desvaloriza as ações da CAD. Uma fonte do partido em Nampula, que preferiu não se identificar, afirmou que não comentará "agendas de outros partidos”, classificando o processo como inconstitucional. A mesma fonte reiterou apoio aos resultados proclamados pelo Conselho Constitucional.
Divisões internas e tensões
Além das disputas com a FRELIMO, há tensões internas entre Venâncio Mondlane e o presidente do PODEMOS, partido que apoiou sua candidatura. A CAD considera que a participação dos deputados do PODEMOS no parlamento seria uma traição ao espírito da luta popular. "Lutamos para governar o país, não para estar em segundo lugar”, concluiu José Ali.
As "eleições populares" em Nampula refletem um quadro político polarizado e marcado por desconfiança nas instituições oficiais. O desenrolar dessas ações pode redefinir o futuro do diálogo político em Moçambique.