Mais de um mês após ciclone Chido: Resposta ainda é lenta
A 16 de dezembro de 2024, o norte de Moçambique foi fustigado pelo ciclone Chido, que deixou um rastro de devastação. Mais de um mês depois, a reconstrução continua lenta na província de Cabo Delgado.
Assistência às vítimas
As autoridades governamentais lideradas pelo Instituto Nacional de Gestão de Riscos de Desastres (INGD) avaliam ter prestado ajuda a 71% das vítimas do ciclone Chido. Do grupo de apoio, constam produtos alimentares e alguns materiais de construção para retirar as famílias do relento onde ficaram depois do ciclone ter destruído as suas habitações.
Moradia improvisada
Apesar das ajudas anunciadas, um grande número de famílias continua à espera de apoio, principalmente material de construção. Maria Pedro vive no bairro de Metula, em Pemba, e improvisou uma cabana usando restos de chapas de zinco e paus que reaproveitou dos escombros. "Nos dias de chuva, toda a água termina no nosso corpo por falta de abrigo adequado. Ninguém aqui na zona recebeu apoio", diz.
Resposta "muito lenta"
Também o presidente do Conselho Autárquico de Pemba avalia a resposta ao ciclone na capital provincial como "muito lenta". "Temos nos reinventado à nossa maneira e com os recursos próprios e temos aproximado o Governo provincial, que também tem mais desafios", diz, referindo-se a outros distritos. Para Satar Abdulgani, é urgente que se dê impulso às famílias: "Esta população não tem onde dormir."
Solidariedade internacional
A ONU continua a apelar para a urgência de apoio dos parceiros internacionais para mitigar o sofrimento das vítimas do ciclone Chido. Paola Emerson, chefe do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários em Moçambique, aponta alimentação, sementes para cultivo e bens de necessidades básicas como itens urgentes: "Apelamos para que a solidariedade internacional continue".
Vulnerabilidade agravada
No bairro de Mahate, em Pemba, há famílias que estão a perder os seus terrenos por causa de uma cratera que cresce a cada época chuvosa. O ciclone Chido acelerou ainda mais a erosão, destruiu casas e outras estão em risco de desabarem. A edilidade local está a sensibilizar famílias para abandonarem estas zonas de risco.
Oferta ambulatória de cuidados de saúde
O setor da saúde foi um dos mais afetados, em Cabo Delgado, com unidades sanitárias a ficarem destruídas - dificultando o acesso da população aos cuidados de saúde. O setor está a promover brigadas móveis de saúde. Ou seja, em zonas onde o centro de saúde foi destruído, técnicos de saúde oferecem serviços de consulta, farmácia e outros cuidados.
Aulas em "espaços temporários"
1.419 é o número de salas de aula destruídas pelo ciclone Chido nos oito distritos de Cabo Delgado atingidos. Quando se prepara o arranque do ano letivo a 31 de janeiro em curso, o setor da Educação está a construir "espaços temporários" que substituirão provisoriamente as salas de aula convencionais para acolher a lecionação de conteúdo.
Energia reposta
A 12 de janeiro, os distritos fustigados pelo Chido voltaram a usufruir da corrente elétrica depois de duas semanas sem eletricidade. Em Mecufi, a população recorria a geradores de energia à base de combustível para carregar telemóveis e lâmpadas para iluminação. Com a passagem do ciclone, mais de 1.800 postes de média tensão e 21 postes de transformação ficaram totalmente danificados.
Aprender para corrigir
O distrito costeiro de Mecufi foi a porta de entrada do ciclone Chido em Moçambique. Quase tudo o que havia foi derrubado. Para a reconstrução, o então Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, havia anunciado que o Governo deveria observar rigorosamente o ordenamento territorial como forma de criar resiliência a futuros eventos extremos. A reconstrução nesses moldes, entretanto, ainda não arrancou.