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Maputo: Centenas de jovens protestam contra novo Parlamento

13 de janeiro de 2025

Nem a chuva, nem disparos com balas reais e gás lacrimogéneo impediram jovens de alguns bairros, na periferia de Maputo e Matola, de saírem à rua para protestar contra a tomada de posse dos deputados eleitos.

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Protestos pós-eleitorais em Maputo a 24 de dezembro de 2024
Foto de arquivoFoto: AMILTON NEVES/AFP

Centenas de jovens saíram à rua em vários bairros de Maputo para protestar contra a investidura dos deputados moçambicanos, esta segunda-feira.

Foi o candidato presidencial Venâncio Mondlane quem convocou as manifestações, apelidando os parlamentares de "traidores e ladrões do povo". Um dos manifestantes, Óscar Cuna, apontou em particular o dedo à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), que acusou de má governação.

"Não queremos ser mais futuros desempregados. Demos chance à FRELIMO para fazer o que podia, mas não fez nada. Então estamos aqui para reivindicar os nossos direitos", afirmou o jovem.

"O povo é que está no poder"

Um dos epicentros das manifestações, esta segunda-feira de manhã, foi a Praça dos Combatentes, vulgo "Xiquelene". Centenas de jovens concentraram-se no local e acabaram expulsos com disparos de balas reais e gás lacrimogéneo.

Jordão diz que a sua luta é pela verdade eleitoral. "Nós escolhemos Venâncio Mondlane, o povo não escolheu Chapo", o candidato presidencial da FRELIMO, proclamado pelo Conselho Constitucional como vencedor das eleições de 9 de outubro.

"Se é mesmo verdade que o povo escolheu Chapo, porque é que a FRELIMO não manda parar o povo? O povo está cansado, nós é que decidimos e não é a CNE que decide, nem o STAE [Secretariado Técnico de Administração Eleitoral], nem o Conselho Constitucional."

O povo é que decide, continua Jordão. "Desta vez, é o povo que está no poder. Moçambique é nosso."

O jovem queixa-se ainda do uso excessivo da força policial numa manifestação que classificou como pacífica.

"A nossa polícia tem de estar preparada para paralisar uma manifestação. Não é com AKM que se para a manifestação. Nós estamos a lutar pelos nossos direitos. Sou moçambicano e não posso ser escravizado no meu próprio país. Como ficam os meus direitos? A polícia quer guerra e nós não queremos guerra, queremos assumir o poder."

Condições para diálogo nacional?

Esta segunda-feira, o comércio, os transportes e muitos serviços estiveram praticamente parados. As manifestações já duram há quase três meses, em Moçambique, e Venâncio Mondlane, numa live neste domingo, frisou que está disposto para o diálogo.

No entanto, Mondlane impõe várias condições, que se resumem em criar medidas concretas para que a população sinta, no dia a dia, que está envolvida no diálogo.

"O que eu não aceito é [que se veja] apenas lugares no Parlamento, no governo, nos conselhos nacionais, ou coisas do género, e a acomodação de políticos. Eu quero agora a acomodação do bem-estar do nosso povo", exigiu o político.

"Se isso for feito, estou disponível a sentar na mesa de negociações, até se calhar chegar a um acordo nacional e uma agenda nacional com estes pontos", acrescentou.

Acusações contra Mondlane

No domingo (12.01), o porta-voz do Comando Geral da Polícia, Orlando Modumane, acusou Venâncio Mondlane de ter financiado supostos antigos guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), ora capturados, para inviabilizarem a cerimónia de tomada de posse dos deputados e do Presidente da República eleito.

"As Forças de Defesa e Segurança detiveram numa residência no distrito de Marracuene, província de Maputo, seis antigos guerrilheiros da RENAMO, selecionados, mobilizados e pagos pelo cidadão Venâncio Mondlane e seus apoiantes para protagonizarem ações subversivas e inviabilizarem cerimónias de tomada de posse", declarou Modumane.

Os guerrilheiros negaram a acusação. Venâncio Mondlane ainda não reagiu a este pronunciamento da polícia.

A paralisação, convocada por Mondlane, deverá continuar nos próximos dois dias.