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"Não posso estar protegido quando o povo é massacrado"

Romeu da Silva (Maputo) | Silaide Mutemba (Maputo) | Sandra Quiala | Raquel Loureiro | Stélio Guibunda
9 de janeiro de 2025

Em meio à chuva e estradas bloqueadas, Mondlane chegou hoje a Moçambique. À chegada, o candidato presidencial explicou que a sua viagem visa, entre outros, mostrar que está disponível para se submeter à justiça.

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Venâncio Mondlane em Maputo
O candidato presidencial, que já anunciou que tomará posse como novo PR de Moçambique no próximo dia 15 de janeiro.Foto: Jaime Álvaro/DW

A chegada do candidato presidencial Venâncio Mondlane, após quase três meses em parte incerta, marca o principal acontecimento desta quinta-feira em Maputo. 

Mondlane chegou esta manhã ao Aeroporto Internacional de Maputo e, em declarações à imprensa, explicou que regressa a Moçambique com três objetivos:

"O primeiro é para quebrar a narrativa de estar ausente do país. Se querem negociar e dialogar comigo, estou aqui presente, então acabem com essa narrativa", começou por dizer.

Em segundo lugar, Mondlane falou da violência de que o país está a ser palco. "Apercebi-me que o regime optou por uma estratégia de criar uma espécie de genocídio silencioso. As pessoas estão a ser sequestradas nas suas casas, executadas nas matas. Estão a ser descobertas valas comuns com supostos apoiantes de Venâncio Mondlane. Eu acho que não posso estar bem protegido quando o próprio povo, que está no suporte da minha candidatura, está a ser massacrado. Eu estou aqui para testemunhar isso".

Por último, e como terceiro objetivo da sua ida a Moçambique, falou dos processos judiciais. "Também me disseram que há uma narrativa de que estava fora do país por causa das acusações (...) Venho aqui mostrar que estou disponível a submeter-me à justiça e a provar perante a justiça quem são os verdadeiros culpados dos crimes hediondos que aconteceram até hoje".

Na mesma ocasião, Venâncio Mondlane declarou-se o “Presidente eleito pelo povo moçambicano”

“Eu, Venâncio Mondlane, Presidente eleito pelo povo moçambicano - não pelo Conselho Constitucional, não pela CNE - juro pela minha honra servir a pátria moçambicana e aos moçambicanos”, disse.

Venâncio Mondlane declara-se o "Presidente eleito pelo povo moçambicano"

Após as suas declarações à imprensa no aeroporto, o candidato presidencial apoiado pelo partido PODEMOS, deslocou-se para o centro da cidade. 

A nossa correspondente em Maputo, Silaide Mutemba, acompanhou esta viagem que terminou com a morte de pelo menos dois apoiantes de Venâncio Mondlane.

Acesso ao aeroporto condicionado

Alegando perseguição política, Mondlane regressa ao país em meio a um cenário de tensão: o acesso ao aeroporto internacional de Maputo está hoje condicionado pela polícia, horas antes do anunciado regresso a Moçambique do candidato Venâncio Mondlane, juntamente com grupos de apoiantes no exterior. 

Horas antes do horário anunciado de chegada do político, que não reconhece os resultados das eleições gerais de 09 de outubro, ouviram-se alguns disparos nas imediações do aeroporto, cujos acessos, além de bloqueados pela polícia, encontram-se fortemente vigiados, inclusive por militares. 

Dia da chegada de Mondlane a Moçambique
Horas antes do horário anunciado de chegada do político, ouviram-se disparos nas imediações do aeroportoFoto: Jaime Álvaro/DW

Nas vias de acesso ao aeroporto as viaturas estão a ser controladas pela polícia e impedidas de seguir em direção ao interior, por entre a chuva forte que se faz sentir desde o dia anterior e que provocou inundações na capital moçambicana. 

O transporte dos passageiros que se destinam ao aeroporto, a partir dos pontos de bloqueio no exterior, está a ser feito por autocarros.

Apenas passageiros com voos marcados, mediante comprovação, têm autorização para entrar nas instalações aeroportuárias. Sob chuva intensa, pequenos grupos de cidadãos concentram-se nas proximidades, declarando que aguardam para receber o candidato.

Ponta de lança

Mondlane anunciou que o seu regresso marcará o início de uma nova fase de contestação pós-eleitoral, denominada "Ponta de Lança". Durante o anúncio, feito no domingo, o candidato disse que não reconhece os resultados das eleições gerais realizadas em 9 de outubro de 2024 e prometeu liderar a oposição contra os resultados proclamados pelo Conselho Constitucional.

“Se quiserem-me assassinar, assassinem. Se quiserem prender-me, prendam. Sei que, na minha queda, a fúria popular que se vai verificar em Moçambique não terá comparação na história de África e de Moçambique”, afirmou Mondlane. Ele regressa ao país às 08h05 de Maputo, pelo Aeroporto Internacional de Maputo, e fez questão de convocar a população para o receber no local, desafiando o controlo das autoridades e a tensão gerada desde as manifestações pós-eleitorais.

Mondlane no aeroporto
Mondlane chegou esta manhã ao Aeroporto Internacional de MaputoFoto: Jaime Álvaro/DW

O candidato presidencial, que já anunciou que tomará posse como novo PR de Moçambique no próximo dia 15 de janeiro.

Contestação e violência

Desde 21 de outubro, quando começaram os protestos contra os resultados eleitorais, os confrontos entre manifestantes e a polícia já provocaram quase 300 mortos e mais de 500 feridos. Mondlane, que esteve fora do país alegando razões de segurança, negou que tenha fugido por medo e afirmou que a sua ausência permitiu o avanço das manifestações.

Enquanto o Tribunal Supremo afirma que não há mandados de captura contra Mondlane, o Ministério Público acusa-o de ser o autor moral das manifestações que resultaram em prejuízos de mais de dois milhões de euros, apenas nas províncias de Maputo e arredores.

O regresso de Mondlane ocorre poucos dias antes da posse do novo Presidente, marcada para 15 de janeiro. O Conselho Constitucional declarou Daniel Chapo, da FRELIMO, como vencedor das eleições presidenciais, com 65,17% dos votos. O regresso de Mondlane promete aquecer novamente o ambiente político e social em Moçambique, com a expectativa de novos episódios de contestação e tensão.

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