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Qual o interesse de João Lourenço em mediar conflito na RDC?

9 de janeiro de 2025

João Lourenço insiste na mediação entre a RDC e o Ruanda, apesar de a influência de Angola sobre o M23 ser nula. A busca por legitimidade externa pode ser a chave para entender essa estratégia.

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João Lourenço, Presidente de Angola, num evento em Lisboa, em junho de 2022
João Lourenço, Presidente de Angola, é um dos mediadores do conflito na RDCFoto: João Carlos/DW

Os rebeldes do Movimento 23 de Março (M23), que a ONU confirma serem apoiados pelo Ruanda, tomaram de assalto a cidade de Masisi, no Kivu Norte, na República Democrática do Congo.

O ataque acontece numa altura em que Angola se desdobra em esforços para a normalização das relações político-diplomáticas e das tensões entre a RDC e o Ruanda. Reagindo ao ataque, João Lourenço, Presidente angolano, considerou que "esta ação irresponsável compromete gravemente os esforços de pacificação do conflito na região leste da RDC e representa uma flagrante e inaceitável violação ao cessar-fogo que vigora desde 04 de agosto de 2024".

Em entrevista à DW África, o jornalista angolano José Gama diz que Angola não pode exigir do M23 o cumprimento de um acordo de cessar-fogo, porque "o M23 não tem um compromisso com Angola".

DW: Como é que fica a mediação de Angola depois desta ocupação de Masisi?

José Gama (JG): A questão do Congo tem 2 mediadores. Tem Angola que está ajudar no restabelecimento das relações diplomáticas entre o Congo e o Ruanda, não envolvendo o M23 e tem a segunda mediação conduzida pelo Quénia que envolve o M23, a RDC e o Ruanda e é uma mediação para por fim ao conflito. Internamente, Angola tem-se questionado sobre qual é o papel que Angola está a desempenhar. Com esta tomada de Masisi que Angola está a denunciar e a reprovar, Angola toma uma oposição, mas na verdade o M23 nunca teve contacto com Angola. Não se pode exigir ao M23 o comprimento de um acordo em que ele não participou. 

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DW: Isso explica a visita de William Ruto a Angola, neste momento tenso na região.

JG: Pode ser também para abordar essa questão, porque é o Quénia o principal facilitador para o restabelecimento da ordem constitucional naquela região do Congo. João Lourenço precisa do Quénia para dialogar. Angola tem estado a perder credibilidade, porque está há mais de 3 anos nesta mediação e nunca observou aceitos positivos.

DW: Faz sentido Angola continuar com essa mediação?

JG: Faz algum sentido, porque o Presidente de Angola está numa luta pela afirmação externa e ele quer mostrar que é o campeão da paz e quer fazer jus a esse nome nacional e internacionalmente. Amanhã, quando ele for para um terceiro mandato, vai pegar também nisso para buscar um pouco de legitimidade para dar a entender que tem legitimidade internacional e que é muito aceite, por dar a entender que seria bom ficar mais um pouco no poder. É um trabalho que está a ser feito em busca de dividendos na política doméstica angolana.

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