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PolíticaSão Tomé e Príncipe

Patrice Trovoada acusa PR de executar "golpe palaciano"

Lusa
16 de janeiro de 2025

Ex-primeiro-ministro são-tomense Patrice Trovoada acusa Presidente da República, Carlos Vila Nova, de executar um "golpe palaciano", que culminou na nomeação de um Governo de iniciativa presidencial e "inconstitucional".

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São Tomé e Príncipe | Patrice Trovoada
Patrice Trovoada admitiu ainda que a ADI vive o "período mais difícil da sua existência" Foto: Ramusel Graça/DW

“Esse Governo que se quer chamar de constitucional não é o Governo da ADI [Ação Democrática Independente], não é um Governo constitucional, mas é um Governo da iniciativa do Presidente da República que preparou esse golpe já há largos meses, no sentido de se apoderar de todos os poderes que não lhe confere a Constituição”, disse Patrice Trovoada num vídeo publicado na rede social Facebook, na noite de quarta-feira (15.01).

Patrice Trovoada, que é presidente da ADI, afirmou que “o atual primeiro-ministro [Américo Ramos] não foi escolhido pela direção do partido, não foi indigitado pelo partido que venceu as eleições legislativas, por conseguinte é um primeiro-ministro ilegal”.

“Esse Governo que querem chamar de nova esperança, no fundo é um Governo de amigos e compadres que tem como denominador comum resolver os seus problemas pessoais e de ego hipertrofiado”, insistiu Patrice Trovoada.

ADI pode desaparecer?

Patrice Trovoada admitiu ainda que a ADI, que lidera, vive o “período mais difícil da sua existência” e corre o risco de desaparecer, após “o golpe” que derrubou o Governo.

“O risco que nós temos hoje [com o novo Governo] é de retrocesso, de incongruência, de aumento do autoritarismo e da corrupção, e o risco para o ADI é, de facto, de nos virmos a fraccionar e acabarmos por desaparecer, quando desde 2010 somos o maior partido de São Tomé e Príncipe”, disse Patrice Trovoada em mensagem de vídeo publicada na rede social Facebook, na noite de quarta-feira.

Patrice Trovoada, admitiu tratar-se do “período mais difícil da sua existência como partido político”, mas lembrou que foi o “escolhido para conduzir os destinos da nação são-tomense até 2026”.

“O ADI foi vítima, e todo o país ,de um golpe palaciano, golpe esse que contou com pessoas que nós até agora considerávamos de companheiros, que demonstraram a falta de integridade, a falta de honestidade, a ingratidão e o espírito perverso que levou não só à traição de outros companheiros, mas sobretudo levou a traição do contrato estabelecido entre o nosso partido e o povo que nos elegeu com maioria absoluta”, declarou.

Possíveis expulsões dentro do partido

O presidente da ADI, pediu ao militantes do partido “bastante resiliência, coragem e caráter”, prometendo manter-se “sempre ativo junto do partido”, sobretudo na preparação do próximo congresso que quer que aconteça o “mais rapidamente possível” para “expulsar todos aqueles que decidiram de facto sacrificar a ADI, sacrificar o programa de Governo”.

Entre os visados da expulsão, Patrice Trovoada destacou o Presidente da República, Carlos Vila Nova.

O chefe de Estado são-tomense entregou o cartão de militante da ADI após assumir as funções 2021.

“Eu apelo (...) à união [dos militantes], a continuarem a confiar no presidente do partido e no líder do partido para (...)sairmos dessa situação grave, perigosa, quer para o país, quer para o partido”, afirmou.

São Tomé ePríncipe | Américo Ramos
Américo Ramos foi o escolhido pelo Presidente da República para liderar o novo Governo, após rejeitar dois nomes propostos pela ADIFoto: Ramusel Graça/DW

O XIX Governo são-tomense, liderado pelo economista Américo Ramos, foi empossado na terça-feira e é composto por 10 ministros, seis homens e quatro mulheres, e quatro elementos fizeram parte do executivo anterior, liderado por Patrice Trovoada.

Américo Ramos, escolhido pelo Presidente da República, após rejeitar dois nomes propostos pela ADI, foi ministro das Finanças (2010-2012 e 2014-2018) de governos do ex-primeiro-ministro Patrice Trovoada, secretário-geral da ADI e Governador do Banco Central de São Tomé e Príncipe, cargo que ocupava até assumir a chefia do Governo.

"Um primeiro-ministro para todos os são-tomenses"

“Este é um Governo liderado pela ADI [Ação Democrática Independente], partido do qual faço parte e que tenho orgulho de servir como dirigente. A ADI conquistou com mérito a confiança da maioria dos eleitores nas últimas eleições”, afirmou Américo Ramos no seu discurso de tomada de posse, assegurando que será “um primeiro-ministro para todos os são-tomenses, independentemente da sua filiação política”.

Após a posse do Governo, o segundo vice-presidente da Ação Democrática Independente, Orlando da Mata, afirmou que “muitos membros” da ADI com função de relevância no partido, “e que puseram, acima de tudo, o país [à frente]”, apoiam o novo Governo são-tomense, contrariando a contestação da direção do partido.

Carlos Vila Nova, Presidente de São Tomé e Príncipe
Carlos Vila Nova demitiu o Governo liderado por Trovoada apontando "assinalável incapacidade" de solucionar os "inúmeros desafios" do paísFoto: Hannah McKay/AFP/Getty Images

“Hoje nós temos uma figura da ADI [Américo Ramos] no poder, nós temos um elenco maioritariamente da ADI com algumas áreas estratégicas […], nós vemos um Governo competente e que irá ter muito apoio, não só dentro da ADI como fora”, disse Orlando da Mata.

Todos os partidos com assento parlamentar defenderam deveria ser a ADI a indigitar o novo primeiro-ministro, mas mudaram de posição e declararam apoio ao novo Governo, o que mereceu criticas de Patrice Trovoada que os acusou de “aceitar essa farsa”.

“O MLSTP [Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, líder da oposição] está à espera do momento certo para dar a machadada final nesse Governo e por conseguinte no ADI. Por isso que é muito importante nós dizermos ao país, ao nosso povo e à comunidade internacional que esse Governo não é o Governo do ADI”, declarou Trovoada.

Admitindo os riscos de “retaliações, intimidações e tentativas de corrupção” que disse existir no país, o ex-governante e líder partidário disse aguardar uma decisão "sem receio” do Tribunal Constitucional sobre o pedido apresentado pela ADI para a anulação do decreto presidencial que demitiu o Governo.

O Presidente são-tomense, Carlos Vila Nova, demitiu o 18.º Governo liderado por Patrice Trovoada em 06 de janeiro, apontando “assinalável incapacidade” de solucionar os "inúmeros desafios" do país e “manifesta deslealdade institucional”.

Uma viagem ao passado colonial são-tomense