Zelensky: Europa tem de fazer mais para contar no mundo
21 de janeiro de 2025Intervindo na reunião anual do Fórum Económico Mundial de Davos, que decorre esta semana nesta localidade suíça, Volodymyr Zelensky considerou que é uma incógnita qual será o posicionamento do Presidente norte-americano, Donald Trump relativamente à NATO e política de alianças de Washington.
“A Europa não pode dar-se ao luxo de ficar em segundo ou terceiro lugar no que se refere a alianças. Se isso acontecer, o mundo começará a avançar sem a Europa”, sustentou Zelensky, segundo o qual é evidente que, atualmente, a Europa está longe de ser uma prioridade para Washington, observando que já não o era com a anterior administração liderada por Joe Biden e corre o risco de ainda ser menos com Trump.
Ressalvando que mantém muito boas relações com o novo Presidente dos Estados Unidos, que classificou como “um aliado indispensável”, Zelensky questionou o posicionamento de Trump face à NATO e à Europa neste segundo mandato, depois de no anterior ter por diversas vezes criticado a Aliança Atlântica e basicamente ignorado a União Europeia.
"Trump considera a NATO necessária?"
"Será que o Presidente Trump vai sequer prestar atenção à Europa? Considerará a NATO necessária? E respeitará as instituições europeias?", questionou Zelensky, para enfatizar a necessidade de a Europa fazer muito mais em matéria de defesa e segurança, incluindo na área tecnológica, para não ficar definitivamente para trás e poder defender-se das ameaças, com a Rússia à cabeça.
Notando que, menos de 24 horas depois da tomada de posse de Trump, “todos olham para Washington”, o Presidente da Ucrânia questionou “quem é que olha para a Europa”.
Relativamente ao futuro da Ucrânia, sublinhou que “a Europa deve poder sentar-se à mesa para discutir a paz na Ucrânia”, algo que é atualmente incerto, já que, notou, embora considere óbvio que “a Europa deve ter uma palavra a dizer, a questão é saber se Trump vai ter em conta a Europa ou se vai negociar apenas com a Rússia e a China”.
“A Europa tem de perceber o que vai acontecer agora com os Estados Unidos, tem de perceber qual o papel que quer desempenhar, porque a ameaça da Rússia está próxima”, disse, chamando a atenção dos presentes para o facto de que, ao contrário do que sucede com a América, não haver “nenhum oceano” a separar a Europa da Rússia, e notando que, face à aliança entre Moscovo e a Coreia do Norte, “há hoje soldados norte-coreanos mais perto de Davos do que de Pyongyang”.
Política de defesa conjunta e "unida"
Zelensky insistiu que “a Europa não pode esquecer o que aconteceu, quem é Vladimir Putin” e reiterou que se a Europa não se esforçar para “contar mais” na cena internacional e aumentar significativamente os meios para se defender sozinha, o Presidente russo não hesitará em tentar reconquistar os países que fizeram parte da antiga União Soviética.
Defendendo uma “união” europeia em matéria de defesa e política externa, Zelensky disse que “a Europa precisa da UE, precisa da NATO, precisa de paz, mas também precisa de a querer”, considerando que, para tal, é vital também que crie a sua própria «Cúpula de Ferro», aludindo ao sistema de defesa antimísseis de Israel (‘Iron Dome’).
“Necessitamos de uma política europeia de segurança e de defesa unida. A Europa tem de saber defender-se sozinha”, reforçou o Presidente ucraniano, que deu como exemplo aquilo que Kiev tem feito em plena guerra com a Ucrânia, ao desenvolver a sua indústria de drones, que já a tornaram menos dependente dos Aliados.