Dois torcedores brasileiros feridos em briga em Berlim
3 de junho de 2002O sangue quente de brasileiros e turcos não agüentou as provocações entre os jogadores ao fim da estréia de suas seleções na Copa do Mundo. Cerca de 400 turcos e 60 brasileiros assistiam à partida num telão instalado na movimentada Potsdamer Platz.
Depois de Rivaldo cair no chão, aparentar enorme dor e o juiz sul-coreano Young-Joo Kim expulsar o zagueiro Ünsal no distante estádio de Ulsan, na Coréia do Sul, os torcedores na praça berlinense se contagiaram pelas provocações.
Objetos começaram a ser jogados pelo ar e iniciou-se uma briga. A Polícia logo apareceu e controlou rapidamente o tumulto. Dois turcos, de 16 e 19 anos, foram detidos por terem arremessado garrafas. Dois brasileiros ficaram feridos. Um deles, de 27 anos, residente em Friedrichshain, sofreu um corte na cabeça.
Paz em festa turco-brasileira
– Em outros pontos da cidade, o clima pacífico predominou, inclusive nos bairros de Kreuzberg e Wedding, onde moram dezenas de milhares de turcos. O ambiente harmônico também se pôde ver no restaurante Taba. Na casa de propriedade de um turco, mas ponto de encontro de brasileiros, dezenas de pessoas torceram juntas em frente a um telão, a convite do deputado federal Çem Özdemir, do Partido Verde."Berlim significa o convívio entre culturas e não cada um na sua. Brasileiros são loucos por futebol. Turcos são loucos por futebol. Aqui todos gritaram juntos por seus países. Por que não pode ser sempre assim?", comentou o filho de imigrantes turcos e naturalizado alemão, após a partida. Sem saber do tumulto na Potsdamer Platz, acrescentou: "Somos dois povos que sabem o que é diversão. Não há problemas, porque somos muito parecidos. O sangue ferve rápido, mas é isso que faz ambos tão simpáticos."
Paixões comuns, hábitos diferentes
– Especializado em música e quitutes brasileiros, o Taba encheu cedo nesta segunda-feira. Havia farto bufê de café da manhã com cara bem brasileira e tinha até guaraná. Excepcionalmente, a bandeira turca estava pendurada ao lado da brasileira.Conforme as diferenças culturais, as mulheres brasileiras animaram a festa. Em cima da mesa ou no chão, não faltou samba no pé. Já a torcida turca era de maioria esmagadora de homens, que lotaram a primeira fila diante do telão. Özdemir buscava uma explicação: "Talvez os turcos tenham hesitado em trazer suas mulheres, por tudo o que eles já ouviram sobre a mulher brasileira."
Festa turca no intervalo –
O tenso primeiro tempo terminou dando aos turcos motivo de festa durante todo o intervalo. Os brasileiros, um pouco acanhados, discutiam de um canto a outro se o Brasil ainda viraria o jogo ou logo ganharia passagens para voltar para casa."A Turquia jogou surpreendentemente bem na primeira metade e conseguiu segurar os brasileiros. Mas não podemos esquecer que o Brasil já foi quatro vezes campeão mundial, é um dos favoritos ao título", analisou o deputado.
Özdemir teria ficado contente com o 1 a 1. Segundo ele, os brasileiros esnobaram um pouco a Turquia. "Eles pareciam ter pensado que o jogo seria fácil e viram que não era. No intervalo, o técnico deve ter dito poucas e boas para eles, porque eles voltaram mostrando o futebol que nós conhecemos do Brasil."
Carnaval brasileiro ao fim
– Seu favorito, no entanto, não é o Brasil, nem a Turquia, nem a Alemanha, mas um velho conhecido do futebol brasileiro. "Torço pela Argentina até por motivos psicológicos, porque o país realmente precisa dessa força que a Copa do Mundo pode trazer. E, claro, por motivos pessoais, porque minha namorada é argentina", revelou o parlamentar verde.Ao encerrar sua atuação improvisada como comentarista de futebol, Özdemir concluiu: "Vocês são mesmo imbatíveis, no samba e no futebol". E, embora os brasileiros não se mostrassem tão satisfeitos com o magro placar e acusassem o juiz de ter beneficiado a Turquia, não havia mais lugar para ninguém em cima das mesas.