EUA fracassam ao tentar condenar palestinos do Hamas na ONU
7 de dezembro de 2018A Assembleia Geral da ONU rejeitou nesta quinta-feira (06/12) uma resolução proposta pelos Estados Unidos que condenaria, pela primeira vez, o movimento palestino Hamas.
Washington costuma lançar críticas à Assembleia por se pronunciar com frequência contra Israel, mais nunca em oposição ao grupo militante islâmico que controla a Faixa de Gaza.
Antes da votação, a embaixadora americana Nikki Haley havia dito que a Assembleia poderia fazer história e denunciar incondicionalmente o Hamas, que considerou "um dos casos mais grotescos de terrorismo no mundo", apontando que o resultado traduziria "a seriedade de cada país no que diz respeito à condenação do antissemitismo".
"Não há nada mais antissemita do que afirmar que o terrorismo não é terrorismo quando aplicado contra o povo judeu e o estado judaico", afirmou Haley.
No início da sessão, os países árabes solicitaram que a aprovação da resolução deveria se dar por maioria qualificada, ou seja, por dois terços da Assembleia de 193 países-membros, em vez de maioria simples. O pedido árabe foi aprovado em votação apertada, com 75 votos a favor, 72 contra e 26 abstenções.
A manobra árabe teve resultado. Ao final, a resolução contra o Hamas obteve 87 votos favoráveis, 57 contra e 33 abstenções, sem atingir a maioria qualificada. Mesmo assim, a iniciativa americana conseguiu um apoio significativo, ao contrário do tradicional isolamento que os EUA enfrentam na ONU na maioria dos temas relacionados ao conflito do Oriente Médio.
Washington teve o apoio de muitos dos seus aliados, incluindo os países da União Europeia (UE) e de diversas nações latino-americanas. A resolução foi bloqueada em bloco pelos países árabes, que contaram com o apoio da Rússia e da China.
A resolução trazia críticas ao Hamas por "lançar repetidamente foguetes contra Israel e por incitar a violência, pondo os civis em risco". O texto elaborado pelos americanos exigia o fim de "todas as atividades violentas e ações provocadoras" do grupo palestino.
O bloco árabe alegava que o texto buscava ocultar as violações israelenses das leis internacionais e de várias decisões das Nações Unidas. O Hamas é considerado um grupo terrorista nos EUA, UE e outros países, mas não pela ONU.
Em comunicado, o Hamas agradeceu aos estados-membros da ONU que "se mantiveram ao lado da resistência de nosso povo e da justiça de sua causa" e afirmou que a embaixadora Haley é "conhecida por seu extremismo e suas posições em apoio ao terrorismo sionista na Palestina".
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, elogiou a "ampla maioria" dos países que pela primeira vez "tomaram uma posição firme contra o Hamas". Ele considerou o resultado da votação como "uma conquista importante para Israel e para os Estados Unidos".
A tentativa dos Estados Unidos de condenar o Hamas e de pedir que o grupo militante pare de lançar foguetes contra Israel motivou uma emenda apoiada pelos palestinos e endossada pela Bolívia. A proposta define as bases para uma paz abrangente israelo-palestina e faz referência a uma resolução do Conselho de Segurança da ONU de 2016, que condenou assentamentos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental como uma violação da lei internacional. O texto também reafirma apoio a uma solução de dois Estados para o conflito no Oriente Médio – assuntos não incluídos no rascunho americano.
Os palestinos e seus apoiadores, porém, acabaram votando numa resolução rival à americana endossada pela Irlanda, mas que não menciona o Hamas. A resolução irlandesa foi aprovada por 156 votos a favor e seis contra, incluindo 12 abstenções.
As resoluções rivais refletem as profundas divisões entre os 193 países-membros da ONU sobre o conflito israelo-palestino – e o fracasso para encerrá-lo.
Diferentemente das resoluções do Conselho de Segurança da ONU, as resoluções da Assembleia Geral não são vinculantes.
Sob o presidente Donald Trump, os Estados Unidos vêm demonstrando um curso de forte viés pró-israelense. Apesar de medidas controversas como a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, Trump anunciou um plano de pacificação entre israelenses e palestinos para o início de 2019.
A atual embaixadora americana junto à ONU, Nikki Haley, deixará o cargo no final deste mês. Ela deverá ser substituída pela porta-voz da Secretaria de Estado, Heather Nauert.
RC/efe/ap/dw
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