Díaz-Canel critica prisão "com fins políticos" de Lula
26 de setembro de 2018O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, criticou nesta quarta-feira (25/09) a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante seu primeiro discurso diante da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
"Denunciamos o encarceramento com fins políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a decisão de impedir o povo de voltar a eleger para a presidência o líder mais popular do Brasil", disse Díaz-Canel, que substituiu Raúl Castro no comando do governo cubano em abril, marcando o fim de quase seis décadas da era Castro.
A defesa ao petista, preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba após ser condenado por corrupção e impedido de disputar as eleições de outubro com base na Ficha Limpa, fez parte de uma série acusações de Díaz-Canel sobre intervenções que estariam ocorrendo em países latino-americanos. O presidente cubano citou, especificamente, os casos de Venezuela e Nicarágua.
"Neste contexto ameaçador, queremos reiterar nosso absoluto apoio à revolução bolivariana chavista, à união cívico-militar do povo venezuelano e ao seu governo legítimo e democrático, conduzido pelo presidente constitucional Nicolás Maduro. Rechaçamos as tentativas de intervenção contra a Venezuela, que buscam asfixiá-la economicamente e prejudicar as famílias venezuelanas", afirmou Díaz-Canel.
No discurso, o presidente cubano afirmou também que dará continuidade às ideias políticas de Fidel Castro. Emocionado por discursar na mesma tribuna em que o antigo líder cubano falou pela primeira vez ao mundo há 58 anos, Díaz-Canel ressaltou que a maioria da população cubana quer dar sequência à obra de Castro.
"A mudança geracional no nosso governo não deve enganar os inimigos da revolução. Somos continuidade e não ruptura", afirmou.
Ele destacou que está convencido que a reforma da Constituição, que será votada em referendo, ratificará o "caráter irrevogável" do socialismo na ilha. O projeto substituirá o texto vigente desde 1976, que foi influenciado pela União Soviética.
Entre as mudanças mais relevantes estão a eliminação de referências ao comunismo, o reconhecimento da propriedade privada, a criação do cargo de um primeiro-ministro e a modificação da definição de casamento, que abre a porta para a legalização das uniões homossexuais.
Críticas aos Estados Unidos
Díaz-Canel pediu ainda o fim do embargo dos Estados Unidos e culpou a postura assumida por Donald Trump pelos retrocessos nas relações entre os EUA e Cuba. "O governo americano se dedicou a fabricar artificialmente, sob falsos pretextos, cenários de tensão e hostilidade que não beneficiam ninguém", afirmou.
Para Díaz-Canel, o embargo continua sendo o elemento que define a relação entre Cuba e EUA. No entanto, segundo o presidente cubano, a atuação americana está indo mais longe, promovendo também programas públicos e secretos para tentar intervir nos assuntos da ilha.
Os EUA seguiram como principal alvo das críticas de Díaz-Canel ao abordar questões comerciais. O presidente cubano criticou as "medidas punitivas" de Trump contra China, União Europeia e outros governos, alertando que elas prejudicarão especialmente os países em desenvolvimento.
O presidente cubano denunciou o uso da ameaça, da força, do unilateralismo, das pressões e das sanções que caracterizam cada vez mais as ações do governo americano. Díaz-Canel também acusou Trump de usar o "poder abusivo" de veto no Conselho de Segurança da ONU para tentar impor sua agenda ao mundo.
No discurso, Díaz-Canel defendeu ainda a criação de um Estado palestino e apoiou uma solução para o conflito sírio sem a interferência externa.
Díaz-Canel aproveitou para responder um comentário feito por Trump em seu discurso. Na terça-feira, o presidente americano havia atribuído a fome e a pobreza ao socialismo.
"Elas são consequência do capitalismo. Que ninguém se engane que a humanidade não tem recursos materiais, financeiros e tecnológicos para erradicar a pobreza, a fome, as doenças que podem ser prevenidas e outros flagelos", disse Díaz-Canel, apontando que as principais economias do mundo gastam 1,74 trilhão de dólares em despesas militares.
CN/efe/dpa/rtr
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