Simpósio: Brasil na virada do século 19
26 de outubro de 2002O Brasil na passagem do século 19 para o 20 foi tema de um simpósio organizado em Berlim pelo Instituto Ibero-Americano e pelo Instituo Cultural Brasileiro na Alemanha (ICBRA) e intitulado "O Brasil no contexto americano na passagem de século". O evento, comemorativo do centenário do lançamento de Os Sertões, de Euclides da Cunha, em 1902, contou com o patrocínio da Fundação Fritz Thyssen e da Embaixada do Brasil na Alemanha.
Facetas múltiplas
— Refletindo a abrangência de aspectos contidos no livro em que Euclides da Cunha tematizou o episódio de Canudos, as palestras de quinta-feira (24) buscaram situar o país no contexto sócio-político da época. A sexta-feira (25) foi reservada para as atividades literárias e cinematográficas então desenvolvidas.Os sociólogos tiveram a palavra, no primeiro dia do evento, na abordagem de temas como "Comparação da escravidão no Brasil e nos Estados Unidos", "A elite parda na sociedade escravagista — pesquisas em Recife e em Santiago de Cuba, de 1850 a 1888" e "Religião e revoltas: o significado do cristianismo na luta contra a escravidão no Brasil e no Haiti". Ou ainda: "De escravo a cidadão; discriminação, integração, assimilação e protestos dos afro-brasileiros", "O homem cordial, integração no Brasil e nos Estados Unidos na segunda metade do século 19", "A República brasileira, busca de alternativas" e "A formação do pensamento político no Brasil militarizado e o papel dos conceitos estrangeiros".
Destaque para Euclides da Cunha
— Ao autor de Os Sertões foi dedicada toda uma seção em que foi enfocada sua vida e obra, incluindo projeção de filmes e uma soirée de leitura bilíngüe de trechos do livro. A homenagem foi organizada por Berthold Zilly, professor do Instituto Latino-Americano da Universidade Livre de Berlim e tradutor de Os Sertões para o alemão.Zilly apresentou Os Sertões como "uma obra a um só tempo de ciência e de arte, que pertence àquele reduzido elenco de livros fundamentais, cuja leitura é indispensável a quantos queiram conhecer o que a inteligência brasileira produziu de mais significativo no que diz respeito à interpretação objetiva da realidade física, humana e social do Brasil".
A decisão de traduzir o "clássico difícil" remonta, segundo Zilly, à fascinação nascida durante uma viagem que realizou pelo Nordeste brasileiro na juventude. Em relação ao trabalho, que lhe custou dez anos de pesquisas e muitas viagens, "me sinto tranqüilo, bem com a minha consciência e, analisando as muitas cartas que venho recebendo depois da publicação da tradução para o alemão, acho que realmente valeu a pena", declarou o premiado tradutor à DW-WORLD.