Forquilha: Um Judas Iscariotes na vida política de Mondlane?
6 de janeiro de 2025"Vamos fazer o Forquilha rico para deixar o povo em paz" é o nome da campanha de angariação de fundos que está a mover os moçambicanos. Como funciona? Cada cidadão envia um metical para a conta móvel do líder do PODEMOS, para que ele consiga 30 milhões de meticais, valor equivalente ao número de pessoas que compõem a população moçambicana.
"Se é dinheiro que ele precisa, é dinheiro que receberá", atiçam os cidadãos. Porém, identificar a autoria da iniciativa única e até hilariante está a ser uma tarefa hercúlea. Mas o ativista e jornalista Zito Ossumane tem sido identificado com o rosto da campanha:
"É para demonstrar claramente que estamos insatisfeitos. Para que ele desista deste processo de traição, porque o que está em luta não pode ser dinheiro, mas o bem-estar coletivo de todos os moçambicanos. Então, esta campanha visa essencialmente demovê-lo dessa pretensão, que para já só lembra os atos de Judas Iscariotes, que vendeu Jesus por 30 moedas", relata Ossumane.
Vendido ao regime?
Albino Forquilha passou a ser visto como um "vendido ao regime" após aceitar que os deputados do seu partido tomem posse num contexto de negação dos resultados eleitorais de 9 de outubro e ao aceitar, para já, ser reconhecido como líder do maior partido da oposição, com todas as regalias e benesses que a lei confere a esse estatuto. O seu porta-voz nega as acusações e afirma que é uma acusação grave que está a manchar a imagem do seu líder:
"Esta campanha não nos deve afetar. O partido PODEMOS conhece a dignidade do presidente Forquilha [...]. Saiu do partido no poder [FRELIMO] justamente por causa desta questão, também para fugir desta questão de compras e subornos," afirma Duclésio Chico, acrescentando que "esta campanha é uma forma de pressão ao Forquilha para a não tomada de posse dos deputados eleitos pelo povo."
Mas é justamente pelas ligações embrionárias de Forquilha com a FRELIMO, que governa o país há quase 50 anos, que as chamas da desconfiança estão em expansão. Ossumane suspeita que o líder do PODEMOS se tenha vendido ao partido que governa o país, até porque, segundo ele, não seria o primeiro.
"Em linhas ideológicas, o próprio Forquilha ou se calhar a própria organização PODEMOS não está tão distante da linha de ensinamento do partido FRELIMO. O Forquilha é um ex-membro da FRELIMO, ocupou lugares cimeiros na administração do partido [FRELIO] ao nível da província e cidade de Maputo," pondera.
"Portanto, consegue conversar muito bem com as atuais lideranças, conhece muito bem os corredores. E a sensação que se tem é de que sim, chegou a um acordo com o partido FEELIMO para ter acesso a esses lugares de privilégio que resolvem muita coisa em termos de valores monetários," conclui.
Rachadura ou rutura?
A decisão do PODEMOS e do seu líder desencadeou uma tensão com Venâncio Mondlane e o seu assessor Dinis Tivane, depois deste último ter dito que Forquilha "não é um interlocutor válido" e de Venâncio Mondlane ter anunciado, numa carta, que qualquer acordo ou negociações "são nulos e de nenhum efeito", considerando o acordo de união entre as partes.
Mas Duclésio Chico defende Forquilha, buscando legitimidade justamente no acordo em alusão, não público, que os permite assumir as suas posições no Parlamento.
"É uma acusação infundada por parte do candidato [Venâncio Mondlane] e do seu representante. O candidato VM e o presidente Forquilha têm um acordo assinado que preconiza estes dois momentos: Primeiro, a vitória, e em segundo, em caso de um segundo lugar. Então, essas declarações do representante de VM são infundadas e o PODEMOS não se revê nelas," argumenta.
Duclésio Chico revela sucessivas falta de respeito do lado de Venâncio Mondlane, para além da sua inacessibilidade para debater assuntos de interesse conjunto. Para o PODEMOS, a campanha de ajuda de enriquecimento de Forquilha também é uma surpresa. Estarão as duas partes à beira de um divórcio político?
"Ainda não há nenhum divórcio entre nós. Apesar da índole dos senhor Dinis Tivane, nós ainda estamos a verificar de que forma podemos resolver essa situação. Ainda não houve nenhum divórcio entre Venâncio Mondlane e o partido PODEMOS," vinca Duclésio Chico.